sexta-feira, 30 de junho de 2006

A ultima parte do trajeto

É a parte que não termina nunca. É aonde se condensa tudo.
Às vezes não há o que ser dito, ou melhor a muito o quer se quer dizer, mas muito mesmo, e este muito provem de sentimentos que nos preenchem, nos tomam de completo.
Mas o silêncio deve imperar, porque o tempo das palavras não é bem este. É tempo de se agir, de se decidir, de se executar, as palavras vão ficar para depois e teremos que lidar com a falta momentânea que elas vão fazer.
As palavras neste momento vão apenas complicar, adiar e dificultar, e devem ceder a vez a concentração do olhar, ou do não olhar, dos olhos semi-cerrados e das muitas outras expressões voluntárias e involuntárias durante o esforço de se conter os sentimentos, a explosão não pode ocorrer ou se pode tem hora certa, momento certo, errar o timming pode comprometer tudo e o paciente vai morrer da cura e não do mal.
Você já deve ter visto várias vezes em reportagens a imagem daquele ultimo maratonista, ou um dos últimos, que se arrasta em direção à linha de chegada, praticamente de forma autômata e mecânica, tudo o que restou dele alimenta o objetivo primário de cruzar aquela linha.
Pois é, as vezes na vida da gente a gente esta assim, ou tem gente perto da gente assim, e não, não é uma maratona de 42km sob o sol de verão.
Mas é uma maratona dentro da própria vida, passando pela vida de todos que o cercam, muitos acreditam que ela não pode ser concluída, muitos não acreditam que alguém vá terminar sozinho, sem ajuda. “ninguém faz isto”, “só se beltrana tomar tal atitude”, “ele(a) quer é aquilo”, o que ninguém se dá conta é que cada expressão desta é como se fosse incluído mais alguns kilometros numa jornada que por si já é muito longa.
Ninguém é obrigado a disputar certas corridas, é o famoso livre arbítrio, agora se você não vai fazer, pelo menos dê, por mais improvável que seja, o benefício da dúvida a quem se dispôs ou não teve alternativa senão tentar.
Apenas os tolos e os loucos não temem, o que nos diferencia neste caso é a batalha constante sobre nossos sentimentos, sobre o dolorido de velhas cicatrizes, o arrepio que sobe pela espinha, o riso forçado e lá vamos nos mais um passo pra frente.
O seu silencio, já é um grande presente, a quem esta desafiando os próprios limites, atropelando convicções, ignorando dogmas e convenções sociais, não para ser melhor, não para ser superior, mas apenas para cumprir mais uma etapa na busca de se viver em paz consigo mesmo, e zelar pelo que se acredita.
A gente vai cair, vai tropeçar, vai levantar de novo, vai se arrastar, se esfolar, e a gente sabe, de verdade sabe, que isto tudo faz parte, mas também sabe que quando se chega a uma certa altura retroceder torna-se impossível, então a gente se desliga, fica meio que no automatico, centrado no objetivo primário.

Porque faz de conta, é para contos infantis, e uma vida inteira com os olhos fechados para a própria realidade é simplesmente deprimente, é joga-la fora.
E desistir, é quebrar-se por dentro, a acredite, estes são os maiores temores de quem está “correndo”. Então colabora, vai e não bate em quem não esta em condições de se defender, todas as demandas tem o seu tempo e seu lugar, e voce pode acabar perdendo muito, decepcionando muito, simplesmente porque “pensou igual a todo mundo”, porque “as evidencias mostram assim”, e se permitiu um desgaste fora de hora e inútil.

3 comentários:

Janaina disse...

Nossa, Daniel... Eu tive a oportunidade de ler e reler este texto várias vezes. Gostei dele todo. Mas esse último parágrafo... é um soco no estômago.

Anônimo disse...

Olha as minhas fotos da proxima vez! Risos
estou sentindo falta do "na cozinha"
Beijos

Mônica disse...

afff..que texto,amigo, que texto!