sábado, 18 de março de 2006

O que te doi?

Outro dia eu ia quietinho pela rua pra casa pensando na vida, quando um amigo me surpreendeu com a seguinte pergunta: o que te dói, que voce está assim?
De lá pra cá ando martelando sobre o que é dor? Alguém por aí consegue explicar?
Ta bom, tem toneladas de blá,blá e blá sobre o assunto, eu concordo.
Mas hoje eu vou restringir entre dor física e não.
E a que é física eu vou deixar para os médicos, neosaldina, dorflex, morfina e companhia.

E vou falar da outra dor, aquela que nem sempre a gostamos de falar, e que freqüentemente chamamos de stress, de ansiedade, cansaço, e vários outros nomes.

É gente, é dor sim, e ela é profunda, aguda, constante, e não raro tolhe o nosso raciocínio, modifica nosso humor, e corrompe a nossa personalidade, e arrasa a saúde.

Ok, você não conhece ninguém com dor, ao menos física, que seja sociável né?, e se conhece é com certeza a criatura mais biruta do que todo mundo da praça, pode mandar internar.

Agora que ambulância já foi com o biruta identificado, e sentado ao lado de um Elvis, de um super-homem, e um político honesto, vamos continuar aqui..

Você conhece quando alguém padece de dor? , é aquela outra, aquela que não é física?
Pois bem taí um diagnostico cada dia mais difícil de fazer. e sabe porque? Porque nós não convivemos mais uns com os outros, passamos a maior parte do tempo sozinhos ou num universo reduzidíssimo de pessoas.
Para diagnosticar a esta dor, você tem que conhecer a pessoa para enxergar o que está se passando, não você não vai descobrir olhando a íris de ninguém, são critérios subjetivos formados pelo tempo que você conviveu mais as coisas que você mesmo viveu.

Esta dor é assim, constante, causa insônia, deixa a gente disperso, deprimido, agressivo, oscilando entre tudo isto,e não se engane, causa sobrecargas enormes no organismo.

O que causa, bem ainda não há um tratado definitivo sobre o assunto mas alguns motivos são considerados:

Frustração, solidão, coração partido, saudade, magoas, decepções.
Silêncio: é silencio, não tem quem escute, não tem que fale, a solidão de estar cercado e não ser visto e não ser ouvido. Motivo gravíssimo este.
Negação.
Viver fora do próprio mundo(vou falar disto depois). e por aí vai.


Em tempo, eu não sou psicólogo, e não tenho a menor pretensão de invadir tão nobre território alheio.

Mas estou falando aqui de coisas sobre as quais gostaria de conversar, coisas que observo ausentes nas conversas, nos posts, nos artigos publicados na grande circulação.

Esta dor precisa ser notada, observada, não, ela não tem cura, volta e meia passamos por ela, de uma origem ou outra, e isto ajuda a formar o que somos e como somos.

Mas temos que ter cuidado com o tempo, às vezes acabamos fazendo a dor ficar mais do que o necessário, ou então trazemos de volta uma dor que já foi. Ou mesmo nos concentramos numa dor que ainda não apareceu.

Quando sentimos este tipo de dor, perdemos tempo, vida e saúde, atrás de coisas que ela mostra: os tais de stress, depressão, instabilidade emocional, insônia e etc.

Desde os tempos de colégio que escuto que o ser humano é uma criatura social, pois é em tempos de internet, banda-larga, satélites, pda’s e etc, estamos perdendo aquilo que nos sustenta e define: ser social.
O povo brasileiro sempre foi bom, de bom humor, de se reunir na praia, nos bares, nas praças(que estão sumindo), sempre exerceu o social entre os seus e com todos que aqui resolveram vir.
Para mim como brasileiro e carioca é difícil admitir alguém que padeça de solidão aguda, crises vá lá, agora aguda?
Tem algo errado por aí, estamos desaprendendo coisas que nos mantém vivos:
Não tem nada de misterioso em um sorriso, um “bom dia”, um “boa tarde”, aquela conversa que começa com a previsão do tempo, passa pelo futebol, pela política, pelos “bons tempos”, mas esta comversa tambem passa e previne a dor, aquela sabe, que não é física.

Não precisa ir longe, observe a geração 40 e poucos anos perto de você, na maioria tiveram infância de brincar na rua, amigos de infância, pelada bicicleta, beijos roubados, e etc, veja se esta turma não suporta bem os trancos? Eles tem passado e quando a coisa aperta, lembram que sabem uma coisa mágica: possuem com eles historias lugares e pessoas vivas e ou nas lembranças que mandam a tal dor embora.

Se as coisas estão dificeis, se alguém está estranho, presta atenção pode ser a tal dor, vai lá e dá uma mãozinha.
não ser preocupe no que voce deve falar, ouvir já é muito acredite.
Faça como o meu amigo pergunte; o que te dói?, pode não fazer efeito na hora, podem não falarem nada mas é penas porque ainda não está na hora, mas o remédio ja foi dado.
e a parte incrível é que um oi e um sorriso já podem aliviar e muito.

Preciso ir. estou só no escritorio o dia todo, e vou ver meu filho que a saudade dele ja está literalmente doendo, risos, depois escrevo mais.
bom fim de semana.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que delícia que é acabar com dor de saudade...
E quanto as dores do mundo...
Uma nova perspectiva para pensar nelas a partir deste.

Mônica disse...

belo texto.... pra ler, reler, pensar e praticar

grande beijo