Eu estou aqui, sem sono, pensando nas inconsistências da minha vida, e na dificuldade que hoje temos para administrar assuntos tão simples ou pelo menos eles eram né?
Alguém aí já reparou na guerra que se tornou uma reunião de família? Cara, parece que mais escolha para se estripar alguém vivo ou arrancar unhas com pinça e sem anestesia... falou na tal reunião o tempo fecha, chove reclamação , mal humor e cara feia..
A mulher tem que ser moderna, feminista, emancipada, e coisa e tal.
Agora, me diz, e quando ela quer chorar? Faz o quê? É, ela quer chorar, ela quer ser frágil, ela esta cansada, com as pernas arrasadas pelas longas horas de salto andando numa cidade cujas calçadas não foram preparadas para tal. Ela mal consegue parar para uma refeição, se desdobrando nas muitas jornadas que faz.
Eu ainda me lembro, do som gostoso das cantigas nas vozes femininas da minha mãe, avós e suas contemporâneas, alguém aí tem visto as mães cantarem para seus filhos pequenos? Quando foi a ultima vez que à mesa, foi posta uma refeição meticulosamente preparada, por mais simples que seja. Aquela comida “fresquinha”, aonde a receita tem sempre o toque de que a fez, e o tempero e a arrumação especialmente endereçados para que vai desfrutar dela?
Não eu não vou levantar aqui bandeiras chouvinistas ou ortodoxas, nada de ultra-tradicionalismo.
É apenas saudade, gente, é saudades e das boas, de um tempo em que a divisão de papeis nos dava uma imagem mais estável do que a pluralidade deles.
Eu trabalho, estudo, eu me viro na cozinha, coloco um quadro na parede, passo minhas camisas, mato baratas, troco a resistência do chuveiro, e sei que não se pode misturar roupas coloridas com roupas brancas para lavar....
Mas e daí? Hum, me diz! Anda fala! E daí? Explica pro cara que mora sozinho que ele nunca vai ter a supresa de ver uma camisa passada de um “jeitinho especial” no armário dele (saída que ela achou para evitar a horrível combinação de cores que muitas vezes ele faz).
Explica para ela que ela vai chegar em casa e vai ter que se contentar com o barulho da televisão ou o som do cd que ela comprou para ter movimento em casa, e que ninguém vai perguntar como foi o seu dia, fazer uma massagem nos seus pés ou escuta-la extravassando os desgastes do dia.
Diz a ele, que ele vai ter que decidir TUDO sozinho, e sozinho ter o bom senso das decisões tomadas à dois, amargar sozinho os erros, e não ter com quem comemorar os sucessos, imagine como se sentiria um jogador de futebol que dribla meio time, faz aquele gol espetacular e se vê diante de um estádio vazio? Dá para conceber algo assim?
Modernidade é Ela degelar a comida no microondas e jantar conversando com o gato, vestir uma linda langerie de seda para dormir abraçada com um bicho de pelúcia..Cruz credo!!
Modernidade é você ter pavor da idéia de juntar os amigos em casa: o trabalho a sujeira, o barulho, etc, etc.
E a alegria, a descontração, o prazer do convívio? Para aonde foram?
O que aconteceu com aquele papo do tipo: você chega resfriado e te fazem uma canja, ela dormiu sem comer e ganha um café reforçado de manhã?
A cumplicidade humana, que mantem a sanidade da alma e dos corpos foi parar aonde? Cada vez mais a gente se enche de pílulas, complementos, não nos lembramos mais da ultima semana sem sentir nada ou tomar nada.
Cara eu conheço gente que vai ao medico para CONVERSAR!! Juro, é sério e melancolicamente triste..
Não aprendemos nada com os mais velhos e estes por sua vez tem cada vez menos forças para nos ensinar algo,mergulhados num profundo sentimento de inutilidade e falta de serventia. Triste né.
Definitivamente a tal de modernidade roubou os prazeres simples da nossa vida, o problema é que não sei pelo quê nos trocamos isto.. você sabe??