Ontem eu encarei uma parada dura: enterro, pois é diz o ditado que M.. é igual penca de bananas, nunca vem sozinha, acho que a minha penca desta vez tem mais de uma dúzia.
Uma tia morreu dormindo e o sobrinho a encontrou, ainda na cama, pela manhã, a notícia chegou lá em casa por volta do meio dia e largamos tudo e toca pro cemitério.
Cemitérios não me incomodam, e enquanto não dava 5 da tarde, hora marcada para o enterro, considerando que tinha gente vindo de SP, me sobrou olhar a família ali reunida, e ficar tecendo considerações em cima do visto e ouvido.
Morte é inevitável, mas eu continuo achando que tem gente que não merece, se bem que a morte da tia foi, digamos assim, abençoada, sem dor, sem sofrimento, nem dela nem de ninguém, deu boa noite, deitou e morreu dormindo. e quer saber? ela fez por merecer morrer em paz, tinha um coração enorme e é responsável por agradáveis momentos na lembrança de todos.
É inevitável você pensar na brevidade da permanência da gente aqui neste mundo, do quanto do nosso tempo a gente já gastou, se vai fazer tudo que tem que fazer no tempo que falta e coisa e tal. dureza.
Eu me deparei com uma situação nova desta vez:
Havia lá toda uma geração na casa dos vinte, com vínculo entre si, que se apoiou , se confortou, que encarou a coisa como algo dolorido e não merecido, "Tio, a gente aceita, mas não se conforma" , resumiu uma delas, com aqueles belos olhos castanhos vermelhos de chorar.
Havia tambem a geração depois dos 60, os pais os tios, os amigos de família, todos com aquela impressão que a fila deles começou a andar, e nas conversas conferiam a saúde e a vida uns dos outros, me dando a impressão de um check-list ao contrario, numa busca até inconsiente de fazer com que a fila ande o mais lento possível.
E havia eu, e mais dois ou três, no grupo dos quarenta, indefinidos, avançados em relação ao pessoal de 20 e poucos, e olhados ainda como "menores" pelo clã dos 60, olha eu nunca me senti tão deslocado na vida.
Mais do que o tradicional sentimento de culpa por deixar sempre "para depois", N coisas, ficou a nítida impressão que não temos algumas coisas para passar para os mais novos, simplesmente porque na ânsia de viver nossa própria vida, a gente não parou para aprender o que devíamos com os mais velhos e este conhecimento e esta vivência está se perdendo à medida que eles estão partindo.
Corremos o risco de nos tornar velhos "mortos-vivos" , sem historia, sem memória, sem a habilidade de conversar, de contar, de repassar o que se viveu e aprendeu, pelo motivo mais besta do mundo: "deixamos para depois", "depois vamos ter todo tempo do mundo".
Com a tia não tenho drama de consciência, nunca deixei de demonstrar meu carinho e afeto e vou sentir saudades. Ainda lembro do cheio dos bolos, recém assados para o lanche na minha infância.
Ela partiu e deixou os filhos com a vida encaminhada, fez isto com uma maquina de costura, e tem gente ganhando salário e reclamando da vida, depois de avó, começou de novo: voltou para escola e estava feliz porque passou para a 7a serie, é tia, não sei aonde voce está, mas me orgulho de voce, e com certeza, voce vai seguindo e aprendendo, e por aqui prometo tentar fazer o mesmo. agora vou eu fazer bolo para os guris lancharem de tarde como voce fazia pra gente. beijos pra ti.
2 comentários:
A vida é muito breve, Dani. Por mais longa que seja. E a gente fica com saudades. E a gente para pra pensar no que não fez ainda. E para ver se ainda há tempo. Tempo sempre falta. Sempre.
Seu texto me emocionou muito, pois me fez lembrar de uma coisa muito triste pra mim. Minha tia-avó estava hospitalizada, e eu fui visitá-la muitas vezes, apesar de odiar hospitais. Mas na semana que ela melhorou eu deixei de ir, pq tinha um encontro. Era a segunda internação dela (com espaço de dois anos), e eu sabia q ela ia ficar bem, e a notícia de q ela estava tendo uma semana ótima era o prenúncio de que iria com certeza pra casa. Meus pais foram, ela perguntou por mim. Minha tia morreu dois dias depois. Eu nunca me perdoei por não ter ido me despedir.
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