No filme que eu vi este fim de semana saiu a seguinte frase:
"Teremos que escolher entre o que é certo é o que é fácil",
pois é, é a mesma coisa? dificilmente.
Às vezes o que é certo é fácil. principalmente quando estamos conceituando, exemplificando, comentando.
Agora, e quando temos que fazer? e quando temos que escolher?
ah, aí o bicho pega não é?
É fácil fechar os olhos, é fácil se omitir, e fácil fazer de conta que não sabe, é fácil jogar pedras, e fácil cobrar, e fácil lamentar, e fácil sentir pena de si mesmo, é fácil condenar, e fácil dar uma solução para tudo: você faz assim, não faz assado.., e por aí vai.
Como diz o ditado popular "jogo é jogo e treino é treino".Acontece que quando o jogo começa, a coisa muda de figura:
O Arbitro é a vida, o juiz a justiça, a instância apelativa: divina, repararam que todas as entidades estão no feminino?
e em comum com o feminino temos, muita memória, a praticidade da aplicação da regra, a baixa tolerância à reincidência e a ação implacável sobre a reincidência, a displicência, e quanto mais alta a instancia menor a tolerância para os que abusam e mais dura a postura com os que pleiteiam.
Eu não estou acusando as mulheres de nada, e nem criticando, é apenas uma visão
"in natura" das coisas, basta fazer o devido encaixe..
Agora vamos ao que é certo:
Dificilmente é popular, é temido, é respeitado, mas sem barulho, geralmente um assentimento silencioso e constrangedor, afinal não é o que é certo? então cadê os incentivos?, as aprovações?, os comentários nas rodas? porque só se comentam os embaraços, os vexames, as fofocas? porque não comentar acalorada e apaixonadamente as etapas de algo "certo"?
O processo de se fazer o que é certo é geralmente longo, mesmo que dure um minuto, é recheado de momentos e situações preenchidas pelo frio, pela solidão e o escuro do incerto, acho que posso chamar isto de paradoxo mas é verdade.
O certo muito freqüentemente causa dor aos dois lados, embora no geral isto só seja admitido no lado "passivo" da coisa, causa desconforto, o certo não tem platéia, porque todo mundo acredita que quem vai vencer é o que é fácil, somente porque "ganha" muitas partidas e geralmente em pouco tempo.
O jogo quando longo entedia quem o assiste. E no caso do que é certo, quando a partida termina, a platéia emudece, num silêncio causado pelo "não saber o que fazer", devido o não usual do resultado, e mais que depressa se ela dedica a uma nova partida, ou "troca o canal" pode-se dizer, voltando a atenção a uma outra arena onde outra questão está tendo seu desenrolar de forma mais usualmente "interessante".
De um certo modo, eu aprendi que vender a alma ao Diabo, é algo barato. Blasfêmias á parte, descobri que tem coisa muito pior do que isto, que é vender a alma para o que é fácil.
Eu não condeno quem fez, quem faz isto, não me atrevo sequer a dizer que não vou fazer, somos todos humanos, e portanto falhos, e faz tempo que eu aprendi que tem horas que você chega à conclusão que o que deve ser feito é cuspir para cima e esperar que caia solenemente no meio da cara.
Mas tem coisas que a nossa natureza simplesmente não nos permite fazer e quando a gente tenta ou faz, pagamos um preço por demais caro.
E a cobrança é imediata, fatura automática, e na maioria das vezes, para pagamento integral, porque em parcelas então se torna pior o castigo do que o crime.
Pior do que morrer por alguma coisa é se tornar um morto em vida, perder o viço, o respeito próprio. para se ver destruído sem luta, é melhor ir para a arena.
E, falando dos resultados..
O fácil está ai, é visível, e "comum", e objeto das indulgências, da aceitação, é "aceitável" porque "é o que todo mundo faz", "não dá para fazer diferente" é uma rotina, aonde se ganha: a perda do amor próprio, da auto-estima, da convicção, aonde se ganha uma vida pálida, e cheia de cenários e máscaras, um para cada ocasião, onde se tem antidepressivos, estimulantes, depressões, síndromes do pânico e disso e daquilo, auto-rancor, auto-raiva, e um ingresso vitalício na irmandade:
"nos-fizemos-a-mesma-coisa-nao-falamos-disso-somos-vitimas-silenciamos-entre-nos-e atacamos-os-de-fora"
e o que é certo:
Não, não existe uma espécie de regra cabal sobre o que é certo, ele é certo e pronto, mas tem as circunstâncias e o momento, e para que o ato, a atitude ou o que mais for tenha validade, tudo tem que obedecer a um mínimo de sincronismo, ou timing para quem preferir.
Ele, não raramente dói, machuca, demora uma eternidade, arranha o espelho da vaidade, racha colunas aparentemente solidez de convicções e amizades, é lento na sua conclusão e veloz no seu potencial de destruição, arrasando para renovar, e mutilando para preservar, e para renovar também.
E, não, fazer o que é certo não nos faz superior a ninguém, até porque para concluir lutamos muito contra o que é mais fácil, apenas às vezes nos faz notar uma capacidade maior de se impor privação, de tolerar a dor, o sofrimento e a solidão do processo.
O certo nos renega ao isolamento, não dos excepcionais, do fantástico, mas o isolamento imposto pela intolerância que o ato causa em quem optou pelo fácil.
Mas dá o premio maior, que é o benefício de se ficar em paz consigo mesmo; a segurança que vem do silencio que o confronto com o ato feito, causa em todos ao redor de você, te da a visão de seus verdadeiros amigos, e a certeza que, às vezes atos discretos, e pequenos gestos valem mais do que a mais efusiva aclamação de estádios lotados.
Não vão gritar o seu nome. Não vau te aplaudir. Pelo contrário vão até fazer de conta que não estão lhe vendo.
Mas você vai conseguir desfrutar do silencio e do intervalo entre esta e outras que virão na sua vida, de uma maneira única.
E aproveite, porque o descanso é curto, e daqui a pouco vai começar tudo de novo, e você vai estar com mais cicatrizes, mas mais forte, mais sábio, e com um pouco de sorte, só um pouco, vai conseguir tocar a sua vida, um dia de cada vez, e arranjando sempre cada vez mais um tempinho maior para apreciar a paisagem que ela te oferece, afinal a vida é uma só, e a beleza, está nos olhos de quem a vê. e você decide o que você quer ver não é?