terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Uma questão de Respeito

O texto não é meu, o autor está devidamente citado no final bem com a fonte, com todos os méritos mas as considerações que o acompanham é do castelo de cartas , brilhante como sempre.

Muito provavelmente, os leitores deste artigo devem considerar o título extremamente agressivo, inclusive deselegante. Proponho que tenhamos muita calma e atenção sobre esse assunto, pois para mim, realmente, existem muitos "ladrões" nas organizações, não do dinheiro das empresas, mas sim das pessoas que com eles trabalham.

A argumentação que tenho sobre essa afirmativa foi baseada no livro "O Caçador de pipas", de Khaled Hosseini, que tive o enorme prazer de ler e reler. Permito-me dizer que o livro me foi emprestado pela minha ex-sogra, acompanhado do seguinte bilhete: "Este livro é bom demais para ficar na prateleira".


Principalmente em razão do bilhete, me encorajei em não deixar "engavetado na prateleira da minha cabeça" as conexões que consegui fazer durante a leitura deste livro com a realidade das organizações e nas atitudes, posturas e comportamentos de muitas pessoas que se auto-intitulam de líderes de pessoas, apenas em função do cargo que exercem. De todos os prazeres e sensações agradáveis e muitas vezes tristes, que a leitura deste livro me proporcionou, a mais marcante e significativa para mim foi a seguinte:


Em conversa com seu filho Amir, Baba afirma que existe apenas um pecado no mundo: o do roubo.Ele justifica essa afirmação, dizendo:


 Quando você deixa de dizer para alguém alguma coisa que você acredita ser "verdade", você está "roubando" o direito dele saber o que você sente a seu respeito.


 Quando você mata alguém, você está "roubando" o direito de outras pessoas conviverem com a pessoa que você matou;


 Quando você "maltrata" alguém, você está "roubando" o direito dessa pessoa de ser feliz;


 Quando você mente para alguém, você está "roubando" o direito dela conhecer a verdade.


Como decorrência dessas assertivas, imediatamente surgiram em minha mente os inúmeros "roubos" praticados nas organizações. Relaciono alguns deles para que os leitores possam examinar se, em sua organização, eles são praticados.


 Quando você chega atrasado em uma reunião, você está "roubando" o tempo das pessoas que chegaram na hora marcada.


 Quando você quer, ou impõem, que seus "colaboradores" (não podemos mais falar subordinados, é um termo ofensivo, dizem alguns), fiquem trabalhando rotineiramente após as 8 horas diárias, você está "roubando" o direito ao lazer, ao estudo, além do prazer que todos nós temos em desfrutar da companhia da esposa, filhos e dos amigos do coração;


 Quando você pede urgência na execução de determinada tarefa, e depois não dá a menor importância, você está "roubando" o seu colaborador.


 Quando você pensa que alguns de seus subordinados não estão correspondendo às suas expectativas, e nada diz, você está "roubando" a vida profissional deles.


 Quando você fala a respeito das pessoas e não com as pessoas, você está "roubando" a oportunidade deles saberem a opinião que você tem a respeito deles.


 Quando você não reconhece os aspectos positivos que todas as pessoas têm, você está "roubando" a alegria e a satisfação que todos nós precisamos por nos sentir valorizados e úteis.


 Quando você não é explícito, claro e específico na definição dos objetivos de seus colaboradores, você está "roubando" o direito dessas pessoas de saberem o que devem e precisam fazer.


 Além de "roubar", você está sendo o principal gerador de um ambiente de trabalho desmotivador e desinteressante.


Tenho hoje a convicção, -- não a verdade - de que realmente
só existe um único pecado que qualquer profissional pode cometer no exercício de cargos de liderança: Não dizer, de forma explicita, clara e descritiva, como percebe e sente os desempenhos e os comportamentos das pessoas com quem trabalha.


Todos nós temos um discurso fácil ao afirmar que é imprescindível haver respeito e consideração com todas as pessoas com quem convivemos, quer no plano pessoal ou profissional. Pensar e falar são coisas extremamente fáceis. O grande desafio está no agir, no fazer, no praticar aquilo que se diz ou pensa como sendo o certo, o correto nas relações entre as pessoas.


Não valemos pelo que pensamos, mas sim pelo que realmente fazemos. Tenho constatado, como base no mundo real, que a grande maioria das pessoas deixa de se manifestar sobre como percebe e sente o comportamento das pessoas com quem convivem.


A racionalização por não dizer nada é baseada no argumento de que, "afinal, ninguém é perfeito" e vai acumulando insatisfações, com reflexos inevitáveis nas relações.


Acrescento que o pior tipo de relacionamento que podemos praticar com as pessoas com quem trabalhamos e vivemos é o do silêncio. O silêncio fala por si só. Diz muita coisa, e gera uma relação de paranóia, muita ansiedade e enorme frustração. Dizem que as pessoas admitem boas ou más notícias, detestam surpresas.


Tomo a liberdade de recorrer a um artigo escrito por Eugenio Mussak, na revista VIDA SIMPLES, do mês de julho deste ano. Ele é enfático ao afirmar que feedback é um a questão de respeito e consideração para a outra pessoa.


Chego a conclusão de que só damos feedback para as pessoas que respeitamos e gostamos.


Dar e receber feedback são questões básicas e essenciais para a existência de uma relação saudável, duradoura e, principalmente, respeitosa.


Considero oportuno lembrar, também, que todas as coisas que prestamos atenção tendem a crescer. Se olharmos, tão somente os aspectos negativos de alguém, esses tendem a crescer aos nossos olhos. O inverso também parece ser fatal. Se dirigirmos nossas observações a respeito das questões positivas que todos nós temos, existe a grande possibilidade delas também crescerem.

Em síntese: Sugiro que você faça um exame de consciência profundo nas diversas relações que você mantém.


Se pergunte com bastante freqüência: Será que eu estou "roubando" de alguém algumas informações ou percepções que podem lhes ser úteis para o seu crescimento pessoal e profissional?


Por João Alfredo Biscaia, consultor sênior do Instituto MVC


Fonte: Empreendedor

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